Cada vez mais a problemática da violência em contexto escolar está na ordem do dia. A indisciplina, a falta de cidadania, o vandalismo, o bullying, agressões a professores (pouco frequentes em Portugal), a assistentes operacionais, a alunos, roubos, constituem uma grande preocupação por parte de toda a comunidade educativa.
A violência na escola é um fenómeno geral, existe em todas as escolas, públicas ou privadas, e é transversal em termos de classe social, com graus diferentes de intensidade e gravidade.
Poderemos e devemos, no entanto, considerar que a existência deste fenómeno impede o exercício dos princípios fundamentais da democracia e o desrespeito pelos direitos humanos.
A indisciplina na sala de aula, é uma das formas de violência escolar mais comuns. Traduz-se por comportamentos disruptivos e/ou perturbadores do funcionamento da aula e em comportamentos de provocação, de desafio da autoridade do professor, passando por agressões verbais e físicas entre alunos.
Para muitos alunos, estes comportamentos só acontecem porque os professores não gerem eficazmente a sua sala, ou seja, são ou muito permissivos ou muito autoritários, têm estratégias de ensino ineficazes e protagonizam situações de injustiça.
Também os assistentes operacionais, poderão ter problemas devido a uma má gestão do poder (tolerância excessiva ou prepotência e autoritarismo) que pode promover a desobediência ou a agressividade.
Outra forma de violência bastante comum nas escolas é o bullying, uma forma de agressão em que um ou mais alunos, repetida e intencionalmente, intimidam, assediam ou ferem fisicamente uma vítima. Pode afetar a saúde física, emocional e social dos alunos envolvidos.
As vítimas de bullying relatam, frequentemente, distúrbios do sono, enurese, dores abdominais, dores de cabeça e sentimentos de tristeza.
Os provocadores, as suas vítimas, e os que são provocadores e vítimas, simultaneamente, têm um risco aumentado de desenvolver sintomas depressivos e ideias suicidas.
Contudo, muitas vezes os pais não têm conhecimento de que os seus filhos são vítimas ou agressores, o que não lhes permite tomarem medidas para evitar esta situação.
A agressão verbal, que parece ser a forma mais comum de violência neste contexto, é ocasional e raramente tem como alvo a mesma pessoa.
Parece-me, então, oportuno apontar algumas medidas de prevenção e intervenção:
•formação inicial dos docentes (que deve facultar-lhes formas de promover a gestão eficaz da sala de aula e a resolução positiva de conflitos);
•formação dos assistentes operacionais para inibirem situações de violência no recreio, de forma assertiva e eficaz mas não violenta;
•adaptação, requalificação e dinamização dos recreios;
•projetos educativos que promovam a cidadania, as atitudes de não-violência, o respeito pelo outro;
•promoção do desporto escolar, especialmente dos desportos de equipa; •promoção de clubes de música, xadrez, teatro, etc.;
•facilitação do acesso a jogos didáticos promotores das boas práticas; •dinamização de ações de informação/formação para os pais e para a comunidade em geral;
•envolvimento desta última nestes programas, de forma concertada;
•e, claro, uma maior vigilância dos locais onde ocorrem a maior parte dos atos violentos: o recreio, os corredores, o refeitório ou o bar da escola, entre outros.
Ana Rodrigues da Costa |Doutorada em Desarrollo Psicológico, Familia, Educación e Intervención, pela Universidade de Santiago de Compostela, é Professora Auxiliar na Universidade Fernando Pessoa e Coordenadora da Unidade de Crianças e Adolescentes da Clinica Pedagógica de Psicologia da UFP. É autora e coautora de vários capítulos de livros e artigos científicos sobre bullying, altas capacidades/sobredotação, estilos cognitivos e competência percebida (autoconceito).