Estava presente para o meu filho.
Estava fisicamente presente, por isso estava presente. Chegava a casa e satisfazia as suas necessidades básicas. Significava que estava presente: atenta. Pensava eu.
Mas hoje sei que, na verdade, não estava presente, não estava atenta.
Estava em casa, sim.
O meu corpo realmente estava em casa mas a minha cabeça, o meu sentir, vagueava por outros lugares: o trabalho, os objetivos, as metas, as contas para pagar, a barriga gorda, os comentários dos outros e por ai fora. Encontrava-me entre os problemas do passado e as antecipações de cenários dantescos do futuro. Mas a verdade é que não estava em casa.
Não estava ali, presente, inteira.
Não olhava para os seus olhos, não conhecia os sinais o seu corpo, não me espantava com as suas conquistas, não me apercebia dos seus pedidos de ajuda. Estava desatenta.
Não sabia quem era o meu filho. Não conseguia ver o que verdadeiramente importava. Só lhe dava ordens e lhe dizia como devia ser e fazer.
Um dia o meu filho mostrou-me um desenho e eu, de forma automática, disse – lhe “que bonito!”. E ele, muito dececionado, respondeu: “mãe, são só riscos!”. Acho que tive tipo uma mini epifania nesse momento porque ainda me lembro disto hoje. Tocou-me profundamente.
No infantário começaram os alertas que se prolongaram até à escola: o seu filho é muito agitado, impulsivo, ansioso, desatento. Fiquei fora de mim. O meu filho não podia ser assim. Não podia! Irritava-me tanto. Ficava fora de mim. “Tens estar mais quieto, atento, calmo!”.
A mãe desatenta precisava de um filho atento.
À força! Sim, ele tinha de estar quieto, ser bem comportado e ter bom desempenho escolar. Ele tinha de mostrar que eu era a mãe perfeita e extremosa. (“O que os outros iam pensar?”). Mas não: ele mostrava o contrário. A minha autoestima ficou um caos. Mesmo. Mas a culpa não era minha, não, nem pensar, a culpa era dele. Especialistas, despistes, correrias.
Comecei a procurar fora uma resposta mas nenhuma me satisfazia por completo.
Algo começou a corroer-me. Comecei a sentir que podia fazer algo mais do que simplesmente culpá-lo ou deixar o trabalho para as mãos de outros. Não ia abandonar a ajuda dos especialistas, é certo, mas senti que tinha de começar pelo princípio (que é como quem diz: olhar para mim).
Mas custava tanto…
No entanto procurei ajuda e assim comecei a desenrolar o novelo. E perguntas inconvenientes começaram a aparecer.
Onde teria estado nos seus primeiros anos de vida?
E como estava emocionalmente?
Numa espiral de ansiedade, medo, culpa, irritação.
Até que percebi. Mãe Desatenta Precisava de Filho Atento. Aqui entre nós, que grande incongruência não é?
A criança precisa de alguém que a veja, que a ouça, que a reconheça, que esteja verdadeiramente presente! Que se ligue a ela. E assim sente-se segura e coopera. E assim sente-se vista, fica atenta e aprende. Esta foi a minha história. Esta é a história dos pais que acompanho.
Quando finalmente parei, despertei!
Eu não estava atenta, eu não estava presente. Pensava que estava mas não estava. Eu estava em luta. O sofrimento tinha-se tornado a minha zona de conforto e eu pensava que a única saída que tinha era ficar por lá. Mas não. Existe outra: dá mais trabalho, é certo, mas é uma oportunidade maravilhosa. Uma oportunidade para nos voltarmos a encontrar.
Acredito que o primeiro passo para as crianças estarem atentas é olharmos para nós: que exemplo estamos a dar?
Às vezes até podemos estar a fazer tudo para ajudar os nossos filhos, mas mesmo essa ocupação de fazer tudo pelos nossos filhos, também nos leva a ficar desatentos, ou seja, andamos tão ocupados em ajudar, desvendar, resolver, fazer alguma coisa, que nos esquecemos de simplesmente ESTAR com eles de forma inteira, plena.
Andamos em modo “Fazer” e esquecemo-nos de “Estar”.
Há algo que não nos podemos esquecer: comportamento gera comportamento, atenção gera atenção, desatenção gera desatenção.
E agora vamos para a escola, outro sistema importante que a criança frequenta.
Vamos dar um passeio à escola.
Ouve-se que as crianças estão desatentas, agitadas, mais violentas. É um facto.
A questão é: o que é que estamos fazer para que elas aprendam a ser atentas, calmas, empáticas?
Gritos, castigos, irritação, violência, cansaço são as palavras que se ouvem por parte dos que frequentam este ambiente.
E atenção: a minha intenção não é culpar ninguém- Acredito que todos estão a fazer o seu melhor que podem com os recursos que têm, mas a verdade é que, de uma forma geral, os adultos que por ali andam estão emocionalmente debilitados: esgotados, cansados, frustrados. Estão a precisar de ajuda! Estão todos a precisar de ajuda! A nossa forma de estar reflete-se nas crianças.
Esqueçamo-nos da guerra de quem tem culpa.
Isso só nos desvia do que é realmente IMPORTANTE: o olhar para nós. Cada um de nós pode fazer diferença, cada um de nós terá a sua quota de responsabilidade.
Na verdade estamos todos no mesmo barco, pais e filhos, professores e alunos: todos queremos ser vistos, ouvidos, reconhecidos, amados, olhados com Atenção. Certo?
Eu exigia ao meu filho atenção mas vivia desatenta.
Acredito num caminho mais consciente para responder à desatenção e do que daí advém, como por exemplo, a chamada “má educação”. Se sempre consigo? Não, não consigo por isso continuo no caminho de reeducar-me para ser uma pessoa, mãe, mulher mais inteira e presente.
Não podemos exigir às crianças aquilo que não somos, simplesmente por uma razão, que apesar de óbvia nos esquecemos muito facilmente: Educamos Por Aquilo que Somos! Pelo exemplo!
O que estarão as crianças desatentas a precisar?
Crianças Desatentas precisam de Adultos Atentos.
Vamos olhar para nós sem julgamentos mas com verdade?
À primeira vista pode até surgir o medo mas, acreditem, é tão libertador …
Por Carla Patrocínio do Blog Meus filhos meus mestres, visite a página do Facebook da especialista em Parentalidade Consciente