As escolas como infernais “rodas de hamster”…

As escolas como infernais "rodas de hamster"...

No momento actual, a imagem que me ocorre quando penso numa qualquer escola nacional é esta: uma infernal “roda de hamster” dentro de uma gaiola…

 Dentro da “gaiola” estão muitos “hamsters”… O seu trabalho insano aprisiona-os num círculo vicioso, praticamente impossível de quebrar, fazendo-os girar a roda indefinidamente, sem consciência, sem senso e sem pensamento crítico… Os automatismos comportamentais sucedem-se…

 A “roda” gira sem cessar, num movimento ininterrupto, repetitivo, sem fim à vista e sem um propósito claro ou definido…

 Repetem-se acontecimentos, repetem-se procedimentos, repetem-se tarefas, repetem-se, repetem-se, repetem-se… Sobretudo, repetem-se erros de concepção e repetem-se vícios de funcionamento…

 Mas ninguém quer saber disso porque o importante é que a roda continue a girar, apesar de se saber que se volta sempre ao ponto de origem, que se encontram sempre os mesmos obstáculos, que se cometem sempre os mesmos erros e que nessas circunstâncias não há possibilidade de acontecer qualquer mudança ou progresso…

 O impasse é notório, a situação é embaraçosa e parece não ter solução nem saída possível…

 Como se de um filme surrealista se tratasse, repleto de cenas nonsense, do lado de fora da “gaiola”, a assistir ao movimento incessante da roda, costumam estar os “sábios” do Ministério da Educação e muitos Directores, todos muito mal aconselhados pelo conforto proporcionado pelos respectivos gabinetes e pela camarilha de bajuladores do regime que, do alto da sua cobardia, se mostram incapazes de contrariar qualquer ordem ou decisão emanada pelos doutos superiores, por mais absurdas ou insensatas que as mesmas sejam…

Ou então acreditam piamente na “política” dos seus idolatrados, o que ainda será pior…

 Sim, porque o seguidismo de um bajulador não implica necessariamente a crença genuína no adulado… O bajulador típico limita-se a adular qualquer um que lhe possa ser útil, no sentido de lhe proporcionar vantagens ou benefícios, independentemente de tudo o resto…

 Já os “hamsters”, com o seu movimento ininterrupto dentro da roda, percorrem todos os dias quilómetros e quilómetros, sem saírem do mesmo sítio… Pobres “hamsters”, presos numa gaiola, condenados a um destino infame e cruel…

 Ainda assim, parece que alguns “hamsters” se habituaram e acomodaram tão bem à corrida na roda que parecem considerar que seria muito desconfortável e inseguro deixar de o fazer e, sendo assim, nenhum deles se compromete a fazer parar a roda… Desgraçadamente, parecem ter desistido de si próprios e dos outros, adaptados que estão à previsibilidade das suas (agonizantes) rotinas…

 A submissão inquestionável e acrítica às regras, opiniões e normas da mentalidade dominante e vigente é o que os faz prosseguir na corrida… E a roda continua a girar…

Paradoxalmente, alguns “hamsters” também não parecem muito felizes a correr na roda e alguns aparentam, até, encontrar-se à beira do colapso… Até quando aguentarão?

 Alguns dos que detêm poder executivo parecem agir como se os “hamsters” não fossem pagos para pensar, mas antes pagos para correr e fazer girar a roda… E o pior é que alguns “hamsters” parecem também acreditar nisso, aceitando placidamente que assim seja…

 Nas palavras da Direcção-Geral da Educação: “enquanto processo educativo, a educação para a cidadania visa contribuir para a formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias, que conhecem e exercem os seus direitos e deveres em diálogo e no respeito pelos outros, com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo”

 Inatacáveis tais pressupostos teóricos, mas não condicentes com o exercício da “cidadania” observado em muitas escolas… Aliás, o funcionamento de muitas escolas revela-se frequentemente como uma antítese dos objectivos propostos para os alunos no âmbito da Disciplina de Cidadania e Desenvolvimento… Há adultos que, no seu pior, não podem, nem devem, servir de exemplo para ninguém, muito menos para os alunos…

Como abolir a flagrante contradição entre teoria e prática? Ignorá-la não parece possível… Ou talvez seja, para alguns…

 E isso faz lembrar aquelas pessoas que se afirmam como fervorosas devotas de um determinado culto religioso, mas que na sua vida diária não aplicam os respectivos Princípios, chegando mesmo a renegá-los pelas acções praticadas… Resumindo, “faz o que eu digo, mas não faças o que eu faço”…

 A propósito do poder executivo, vieram-me também à lembrança estas palavras sagazes de Eça de Queirós relativas à acção política observada no seu tempo: “Política do acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha”…

 E passados mais de 150 anos, nada parece ter mudado, muito menos para melhor… Pelo contrário, os vícios, já há tanto tempo, apontados por Eça de Queirós à acção política mantêm-se no presente e alastraram praticamente a todos os quadrantes civis, estando bem visíveis também nas escolas…

 (Texto ligeiramente “ácido”, metafórico e sarcástico de quem, por esta altura, acusa um significativo cansaço físico e psicológico e que já não tem a mínima tolerância ou paciência, nem qualquer disponibilidade mental, para aceitar discursos “redondos”, patéticos e completamente alheados da realidade, destinados a convencer palermas, tanto as “arengas evangélicas” de dentro como as de fora da escola…).

 (Odeio gaiolas, detesto correr e, no geral, também não gosto de roedores…). (Matilde) JUN27-2021