Dez dicas para pais, alunos e escolas no regresso às aulas:

O regresso à escola é sempre desafiante para pais, crianças e professores. Os novos começos não são fáceis e, por isso, às vezes é bom contar com ajuda. Reunimos dez dicas: cinco de um professor e cinco de uma psicóloga que podem ser usadas como um guia prático para quem quer entrar com o pé direito no novo ano letivo.

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Organizar o tempo, ter espírito crítico, fazer perguntas e cometer erros são táticas essenciais para atingir o sucesso. Quem o diz é o professor Rui Correia, vencedor do Global Teacher Prize 2019, que formulou cinco dicas para os mais novos.

Já os pais devem manter-se calmos, defende a vice-Presidente da Ordem dos Psicólogos, Sofia Ramalho, e estar atentos aos sinais que os filhos vão dando: se estão tristes, irritados ou se se estão a isolar.

A psicóloga deixou dicas para os encarregados de educação e para as escolas, que desempenham um papel central no processo de adaptação. As instituições de ensino devem organizar iniciativas que promovam a saúde psicológica das crianças e jovens, que tem sido afetada nos últimos dois anos letivos pela pandemia de covid-19.

1 . Organiza um calendário para estudar e para não estudar

Professor Rui Correia: “Não há nada pior do que perder tempo. O tempo serve para fazer as coisas úteis e as inúteis. Ambas têm imenso valor. É por isso que precisamos por vezes de “relaxar”. Porque já se sabe que fazer um intervalo, um time out, ajuda na concentração quando dela precisamos. Leva o teu tempo de descanso a sério. Organiza formas de o incluir na tua agenda.

segredo está em nunca exagerar, nem no tempo consecutivo de estudo, nem no tempo merecido de descanso.”

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2. Desconfia, com método e elegância, de tudo o que te for dito nas aulas

Professor Rui Correia: “Não há nada que não seja interessante. Quando alguém julga que sim, é porque não sabe o suficiente sobre as coisas. Se mantiveres sempre um espírito de curiosidade por tudo o que te rodeia vais encontrar histórias escondidas por todo o lado. Boas e más, mas sempre interessantes.

O que te dizem nas aulas está à espera dessa tua curiosidade. Os teus professores contam com a tua amabilidade curiosa para chegares onde queres chegar na tua vida e no teu sucesso.”

3. Analisa minuciosamente todos os erros cometidos e corrigidos em cadernos, fichas ou testes

Professor Rui Correia: “Já se sabe que errar é humano. Cometer duas vezes o mesmo erro também é. Mas cometê-lo três vezes é um bocadinho parvo. Faz como fazes quando usas uma app nova ou estás num jogo.

O erro é uma oportunidade única. É ouro. Aproveita-o ao máximo.

© Carol YepesEstuda todos os teus erros com a intenção de nunca mais os repetires. É para isso que eles te servem. Não atires os teus testes e fichas com erros no lixo. Não deixes que os teus erros te dominem. Usa-os para passares ao nível seguinte.”

4. Partilha todas as dúvidas que surjam e não deixes absolutamente nada por esclarecer

Professor Rui Correia: “Quando não percebes uma coisa tens sempre hipótese de fingir que percebeste. É muito simples. Fazes um ar super-inteligente enquanto abanas com a cabeça de cima para baixo. Vai ser um sucesso, vais ver.

O problema disto é que ficas imediatamente na gaveta secreta dos tipos que fingem saber coisas que não sabem. Precisas de decidir se é nessa gaveta que queres passar a tua vida. Há outra gaveta: a dos que percebem o que lhes estão a dizer. Tens montes de amigos nessa gaveta. Sabes bem quem são: são os que sabem escutar-te e perceber-te. Percebes o que te estou a dizer?”

5. Garante que nunca necessitas de estudar na véspera dos testes.

Professor Rui Correia: “Organiza as coisas de forma a teres tempo para aliviar o stress. Ninguém estuda bem em pânico. Deixar tudo para a última é acumular tensão sem necessidade. Se percebes que vais ter muito para estudar, distribui a matéria pelo teu calendário.

Não guardes as coisas para a última hora. Acredita nisto: há pouca gente mais capaz do que tu. São é mais organizados do que tu. Acalma-te.

Está tudo bem contigo; o teu tempo é que precisa de dieta. Lembra-te: o tempo não se estica. Domestica-se.”

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6. Pai e mãe, mantenham a calma e conversem com os filhos

Psicóloga Sofia Ramalho: “Os pais, enquanto modelos de referência nos comportamentos a adotar pelos seus filhos, devem manter-se calmos neste novo reinício escolar, privilegiando e priorizando a comunicação sistemática com os filhos sobre como estão a experienciar a fase de (re)integração na escola e a adaptação, igualmente mantendo-se em contacto permanente com o educador/professor tutor/diretor de turma, de modo a apropriar-se de todas as informações necessárias e colaborar com a escola neste processo.”

7. Atenção aos sinais de tristeza, isolamento, mau-estar e irritabilidade

© Isabel PaviaPsicóloga Sofia Ramalho: “Os pais deverão estar atentos aos sinais de tristeza, isolamento, mal-estar, irritabilidade, dificuldades de interação social do(s) seu(s) filha(s)/o(s) com colegas ou adultos da escola, desmotivação ou perdas no desempenho escolar, ou outras alterações emocionais ou comportamentais.

Quando notados estes sinais é importante recorrer aos professores e/ou aos serviços de psicologia, de forma a providenciar respostas mais adaptativas e positivas para o bem-estar e saúde dos alunos.”

8. É importante promover a saúde psicológica nas escolas

Psicóloga Sofia Ramalho: “A escola deve implementar um plano estratégico integrado de acolhimento da comunidade educativa no regresso à escola, numa articulação estreita com os serviços de psicologia das escolas, tomando a comunidade escolar como um todo para a promoção da saúde psicológica e bem-estar das crianças e jovens, das famílias, dos professores, e dos não docentes, ao mesmo tempo que se investe no apoio ao desenvolvimento das aprendizagens.

Não se pode ensinar ou aprender, sem que todos percecionem e possam sentir bem-estar, uma necessidade básica essencial ao ser humano.”

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9. Falar sobre a pandemia? Educadores e professores devem contar com a ajuda de psicólogos

Psicóloga Sofia Ramalho: “Deverão ser desenvolvidas ações nas escolas para a promoção da segurança, coesão social e bem-estar na interação de todos os intervenientes do ecossistema escolar: ação concertada de educadores de infância/professores para, no âmbito da sua área/disciplina abordarem o tema ‘riscos sanitários’ (Covid/ Pandemia ou outros) e confinamento/ isolamento social, com o apoio dos serviços de psicologia e dos serviços de saúde escolar.

Esta ação facilitaria a literacia em saúde psicológica, a comunicação, a abordagem de alguns receios com mais conforto para o educador de infância/professor. Seria igualmente uma ação relevante para ajudar na deteção de dificuldades no regresso e adaptação à escola.”

10. É necessária uma rede integrada de cuidados de saúde psicológica

Psicóloga Sofia Ramalho: “Deverá ser disponibilizado às escolas um mapeamento e uma rede integrada de cuidados de saúde psicológica nas comunidades externas do território escolar, com facilitação do acesso a intervenções necessárias de foro mais específico e continuado, de forma articulada com a escola e com os psicólogos com intervenção escolar.”