É perigoso cairmos na tentação de fazer juízos de valor com base em imagens ou relatos parcelares, num tempo em que o imediatismo nos leva muitas vezes a reduzir tudo à simplicidade do branco ou preto, certo ou errado. Mas é impossível não nos inquietarmos com vídeos em que adolescentes se divertem a agredir e gozar com um colega. Ou com explicações de pais alegando que tudo não passa de uma brincadeira.
É a brincar, dizem eles
Se milhentos estudos não houvesse, lidar com crianças e adolescentes basta para perceber a facilidade com que se entra na espiral de agressões verbais, psicológicas e físicas. É o nerd da turma, o gordo, a burra, o caixa de óculos, o sem-fim de caricaturas e estereótipos que originam uma segunda pele que se vai colando à pessoa, acabando por tomar conta da autoestima e afetando o seu bem-estar.
Há ainda quem desvalorize o conceito de bullying, a reboque de frases como “isso sempre aconteceu, não lhe dávamos era esse nome”. É certo, sempre aconteceu, o que não invalida que tenhamos hoje ferramentas novas para identificar e combater os fenómenos, deixando definitivamente de os normalizar. E deixando, sobretudo, de encolher os ombros e dizer que são “brincadeiras” de miúdos.
O bullying é um assunto da escola, dos pais, da sociedade. Até porque tem uma incidência particular em contexto escolar, mas não conhece fronteiras de idades, contextos ou classes sociais. Acontece sempre que há desequilíbrio das perceções de poder, seja esse poder social, político ou físico. Enfrenta-se com ações firmes e concertadas de medidas públicas, necessariamente interdisciplinares, e com o compromisso responsável de educadores. O bullying é um problema meu. Seu. De todos os que acreditamos que o respeito absoluto pelo outro, na sua identidade singular e eventual diferença, é a única forma de sermos gente. MAI30-2021.