O “Holocausto” da avaliação docente:

Sempre me intrigou a 2ª guerra mundial. Sempre me questionei como pode um homenzito sem posses, sem estudos, sem apoios, arrastar multidões nos seus devaneios e loucuras. Por isso devoro, sempre que posso livros que relatem estes devaneios e loucuras. Quanto mais leio, mais me apercebo, que todos aqueles milhares de pessoas que foram arrastados para um verdadeiro inferno, o foram por várias razões: um ódio vergonhoso e horripilante, uma loucura desmedida, mas também o foram por medo, por acomodação e por desvalorização.

Quantos não tiveram Medo:
• De opinarem de modo diferente?
• De pensarem e de julgarem?
• De agirem?
Quantos não se Acomodaram:
• A um conforto oco, de ainda não me chatearam a mim?
• A um: “talvez enquanto estão entretidos com aqueles não me incomodem “?
Quantos não Desvalorizaram:
• Os murmúrios que se escutavam entre paredes?
• Os anonimatos que eram recebidos nos jornais e enviados por cartas?
• Os boatos que se ouviam?
Será que todo aquele horror tem um só um culpado? Ou será que todos aqueles que fingiram não ver não serão também culpados?

Em pequena escutei muitas vezes o ditado popular “Tão ladrão é o que vai à vinha, como o que fica ao portão.”
Quantos de nós não ficamos muitas vezes ao portão?
O motivo só cada um de nós o saberá. Mas seja qual for o motivo isso não faz de nós inocentes.

A avaliação dos professores é sem sombra de dúvida uma segregação de uns em benefício de outros. Muitos colegas brincando aos “Hitleres” vão decidindo quem poderá prosseguir ou quem ficará retido e ver assim serem roubados anos e anos à sua vida. Vão-se colocando “estrelas amarelas” nos processos dos colegas e depois é vê-los arrastarem-se pelos corredores das escolas como se corredores da morte se tratassem. Colegas que antes eram dinâmicos, alegres, espontâneos, que davam vida e cor às escolas, agora não são mais do que meros fantasmas que arrastam os seus esgotados corpos.
Será a culpa só dos “Hitleres” ?
Ou quantos de nós por medo de que nos tirem algum do nosso conforto, ou por medo de que para a próxima podemos ser nós, vamos vendo e calando?
Ou quantos de nós nos estamos acomodando a um eu estou bem, também não é bem assim como dizem?
Ou quantos de nós estamos a desvalorizar os murmúrios, os anonimatos que começam a surgir com alguma frequência, os boatos que por aí correm?
Colegas, sim porque somos todos colegas, somos todos iguais, estamos todos neste barco; vamos, mas é acordar antes que seja tarde demais. Vamos todos lutar, juntos. Vamos deixar de brincar ao “Eu sou mais importante do que tu” e vamos nos unir, todos temos direito a desejar alcançar o topo da carreira e por isso quando alguém nos faz frente é um direito lutar. Reclamar da nossa avaliação não é um gesto de repúdio para com os avaliadores é um direito. A reclamação não deve ser vista como uma atitude de revolta ou de desconsideração, deve ser vista como a atitude normal, tão normal que todos, mas mesmo todos devem reclamar. Se nos vamos calando por medo, por acomodação, por desvalorização corremos o risco de tornar as nossas escolas em vazios. Vazios de opiniões, vazios de gargalhadas, vazios de ideias, vazios de democracia, vazios de conhecimento. E se as escolas viram vazios, no que se irão tornar as nossas crianças e os nossos jovens?
Vamos resistir, a nossa grande arma é a nossa resiliência. Não, não e não, eu não vou baixar os braços, eu não vou deixar de lutar, eu não vou deixar de exigir que todos, mas mesmo todos tenhamos o direito de querer chegar o mais alto possível. Por isso, assim volta que não volta lá irá aparecer um texto aqui ou ali, só para moer, só para não deixar esquecer, só para lembrar que já existem milhares de colegas presos nas famosas listas há longos anos, só para não deixar de sonhar que no fundo no fundo todos sabemos que somos todos iguais.
Já dizia o poeta: “Eles não sabem nem sonham, que o sonho comanda a vida!” JUL22-2021

Filomena Sousa