Termina esta sexta-feira o segundo período no ensino obrigatório. Foram três meses de aulas em que a maioria do tempo foi passado em casa, com aulas em frente a um computador. © Igor Martins/Global Imagens-DN/Lusa-26 Março 2021 — 09:57 
Termina esta sexta-feira o segundo período no ensino obrigatório. Foram três meses de aulas em que a maioria do tempo foi passado em casa, com aulas em frente a um computador, devido ao agravamento de casos de covid-19.
“Houve mais aulas à distância do que presenciais. No caso dos mais novos, a diferença foi menor”, disse Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), referindo-se aos alunos do pré-escolar e do 1.º ciclo que regressaram à escola a 15 de março.
“Nada substitui a presença dos alunos na sala de aula e o convívio na escola”
Os diretores escolares notaram melhorias em relação à primeira experiência de ensino à distância, que começou em março do passado ano letivo: “Aumentou a literacia digital de professores e alunos e há muito mais equipamentos distribuídos”, apontou Filinto Lima.
O presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, acrescentou que “continuam a chegar computadores todos os dias às escolas, além do apoio de muitas autarquias que garantiram a internet em casa de muitas famílias”.
Manuel Pereira lembrou ainda a experiência adquirida por professores, que tiveram mais tempo de planificação e preparação das aulas ‘online’. No entanto, sublinhou, “nada substitui a presença dos alunos na sala de aula e o convívio na escola”.
O receio de ver aumentar os casos de abandono escolar precoce foi substituído pela certeza de um outro abandono: “Não houve abandono físico, porque nós conhecemos os alunos, sabemos onde vivem e em caso de necessidade vamos saber o que se passa. Mas houve um abandono do interesse e motivação pela escola”, alertou o também diretor do Agrupamento de Escolas General Serpa Pinto, em Cinfães.
Professores aperceberam-se da “falta de interesse, cansaço e até um esgotamento em relação às novas tecnologias”
Reconhecendo que “não é fácil ter os adolescentes agarrados, durante todo o dia, às aulas através de um computador”, o diretor contou à Lusa que os professores foram-se apercebendo ao longo do 2.º período da “falta de interesse, cansaço e até um esgotamento em relação às novas tecnologias”.
Os próprios alunos confessaram a Manuel Pereira que estão “desmotivados e cansados”: “Os alunos dizem-nos que estão saturados, muitos deles estão nas aulas apenas a cumprir horário. E este desinteresse afetou também aqueles que eram alunos muito interessados na escola”, disse.
Além das aprendizagens que ficaram para trás, existe a questão da saúde mental que também preocupa os professores.
“Temos muitos professores em situação de pré-burnout”
A esta equação Manuel Pereira acrescentou os docentes: “Temos muitos professores em situação de pré-‘burnout’. Passaram a ter muito mais trabalho em casa do que tinham na escola. Além de que muitos se viram perante a difícil tarefa de tentar conciliar o trabalho com a vida familiar. Temos muitos professores que são também pais e estiveram a dar aulas enquanto os filhos também tinham aulas e precisavam de apoio”.
Entre as novas tarefas houve docentes que se disponibilizaram para ir a casa dos alunos que não conseguiam entrar na sala de aula ‘online’.
“Tivemos professores e assistentes operacionais que andaram de aldeia em aldeia, de casa em casa, a ajudar as famílias a pôr os computadores a funcionar, principalmente no caso dos alunos mais novos”, lembrou Manuel Pereira.
A tarefa de ensinar os mais pequenos foi especialmente complicada devido à falta de autonomia e dificuldade de concentração nas aulas, uma situação agravada quando faltava um apoio familiar sólido, acrescentou Filinto Lima.
“Muitas vezes gostava de meter a sociedade dentro da escola para aprenderem a ter regras. Vê-se muita gente sem cumprir as regras mais elementares”
Dentro de pouco mais de uma semana, a 05 de abril, recomeçam as aulas. Para os alunos do 1.º ao 3.º ciclo serão novamente dadas na escola.
Os diretores esperam que este regresso seja “em força e até ao final do ano” e temem apenas pelas atitudes da população em geral, que poderão pôr em causa o desconfinamento em curso.
“Muitas vezes gostava de meter a sociedade dentro da escola para aprenderem a ter regras. Vê-se muita gente sem cumprir as regras mais elementares”, lamentou Filinto Lima.
Desde janeiro, foram realizados cerca de 150 mil de despistagem à covid-19 nas escolas com uma taxa de positividade pouco superior a 0,1%.
As férias da Pascoa começam sexta-feira com a vacinação contra a covid-19 dos professores e funcionários do pré-escolar e do 1.º ciclo marcada para o fim-de-semana, seguindo-se a vacinação de quem trabalha nos restantes níveis de ensino a 10 e 11 de abril.