Com tudo o que sinto acontecer, ‘sinto’, porque me toca a vida profissional e a relação com os alunos, tenho de manifestar discordância. As medidas de quem me governa, às quais devo obedecer, são erradas, cada uma mais prejudicial do que a outra, para aqueles com quem trabalho. Não vejo representada a minha opinião junto do Governo, nem a de outros professores cujas opiniões, coincidentes com a minha, leio. NUNCA somos ouvidos, como se fossemos nulidades, nós que temos contacto direto com a realidade das salas de aula.
O representante dos senhores diretores é uma figura que se preocupa com as Comunidades Educativas- equaciona interesses de índole variada e não apenas o dos alunos, ou dos professores; a outro representante, o dos pais, seria expectável que apenas equacionasse o que é benéfico às crianças- infelizmente existem condicionantes (por exemplo, horários de trabalho) que o impedem disso; as estruturas sindicais não verão a sua opinião considerada (?), não serão suficientemente convincentes(?), não consultarão as suas ‘bases’(?)… … Sem falar nas medidas economicistas que são barreiras para todos.
Pois o que se passa é-me desconhecido. Sei que demorou muito a que as escolas fechassem e nós, “no terreno” a vermos a infeção a alastrar, a termos conhecimento do confinamento da turma A e B, em todos os Ciclos de Ensino, a sabermos de alunos e professores a ir para isolamento, sem que os respetivos contactos fossem testados. Seria uma questão de tempo até se instalar o caos. Uma tortura ouvir dizer: “ As escolas são lugares seguros” e conhecer os casos que lá iam surgindo, não mais visíveis, porque muitas crianças são assintomáticas.
Agora, com o fecho das escolas – FINALMENTE– há a esperança que o confinamento seja mais efetivo e a Covid diminua o número de infeções. Quando surgiu a hipótese de fecharem as escolas, conversei com os alunos, preparei-os para a continuação do trabalho- no meu caso de Apoio- com várias sugestões para mantermos o contacto. “É pouco tempo, professora!”, disse um. “E é preciso escondermo-nos agora do vírus; trabalhamos em casa e depois voltamos”, disse outro. Estou a falar de crianças de 8 anos.
O que se passará naquelas cabecitas, sabendo que estão de férias, sem ser tempo de férias? Tinham voltado há pouco das “Férias de Natal ”e começado o segundo período. Já tiveram ensino à distância no ano letivo anterior. Será que a situação é tão má, que não vale a pena fazer nada? Férias? Nunca houve férias nesta altura.
Para quem diz preocupar-se com a saúde mental das crianças e adolescentes, deixá-los sem atividade escolar, desocupados, é uma medida péssima. A quebra do ritmo de vida de forma abrupta, provoca sempre desorientação. A falta das ocupações habituais, em conjunto com o isolamento, são um incremento para a depressão e para a instabilidade emocional.
Que vão fazer agora, fechados em casa, com os jogos à disposição, o convívio pelas redes sociais e a possibilidades de ir para casa de colegas?
Optar por essas soluções. Não vão fazer pesquisa. Estão de férias. Não vão ler obras didáticas. A maioria não gosta de ler. E… Estão de férias. Fazer revisões de matéria dada? Em tempo de férias?
Mais uma medida desajustada, um erro atrás de outro erro…
É urgente e necessário garantir que todos os jovens têm acompanhamento familiar durante estas duas semanas e alguma ocupação. É um período crítico.
Nestes erros não podem dizer que os professores têm qualquer responsabilidade. O Ensino Online estava planificado pelas Escolas, pronto a ser implementado desde setembro.
E NÃO É PREFERENCIAL, NEM NUNCA FOI– Foi sempre uma segunda via, em caso de ser necessário aplicar.
OS PROFESSORES CUMPRIRAM E ESTAVAM PRONTOS!!
Fátima Ventura Brás – Prof.ª 1.º Ciclo