Sem dramas desnecessários, mas ao contrário do que alguns crêem, a Escola, pela sua natureza, não é um lugar idílico nem pacífico…
A Escola é palco de muitos companheirismos, de muitos desafios, de muitas realizações e de muitas vitórias, mas também, e em simultâneo, de muitas frustrações, fracassos, tensões, zangas, competições e ansiedades, individuais e/ou de grupo…
Um lugar assim, e onde muitas vezes está em causa a afirmação pessoal, pela positiva ou pela negativa, gera indubitavelmente alguns conflitos, hostilidades, confrontos e muita contenda…
Em suma, a Escola é uma entidade que suscita estados emocionais ambivalentes, onde facilmente se misturam e alternam o Amor com o Ódio… E isso parece válido para todos os que diariamente passam a maior parte do seu dia numa escola, quer seja para aprender, quer seja para ensinar…
A violência física e/ou psicológica em contexto escolar exercida por alguns sobre outros é muitas vezes consequência dessa “luta” diária e contínua e, amiúde, uma forma de a exteriorizar…
De qualquer modo, e independentemente das causas, a violência física e/ou psicológica nunca é aceitável, sob nenhum ponto de vista e em nenhum contexto de vida…
A violência nas escolas, que muitos teimam em não querer percepcionar, parece constituir-se como uma espécie de “fenómeno paranormal”, na medida em que muitos acreditam na sua existência, mas dificilmente alguém a consegue comprovar…
Quase como um fenómeno sem explicação à luz dos conhecimentos científicos actuais, parece, por vezes, atribuir-se a sua ocorrência a uma espécie de “forças ocultas”, desconhecidas e indetectáveis, impossíveis de controlar e de compreender… E enquanto assim for, vão-se tranquilizando e confortando consciências, pois que não é possível agir sobre o desconhecido ou sobre algo que se considere estar para além de cada um de nós…
Nesse contexto, a atitude mais comum por parte dos Directores face à ocorrência de episódios de violência em meio escolar costuma ser “atirá-los para baixo do tapete”, tentar minimizá-los ou até ignorá-los… Nessas situações, a ausência de transparência e a hipocrisia costumam ser notórias e a “Lei da Rolha” também… Porque “fogem” do problema? Porque o tentam abafar e esconder?
Os Directores são, quase sempre, os primeiros a não querer enfrentar o problema e a recusar assumi-lo, previsivelmente com receio de que a qualidade da sua gestão ou a sua competência possam ficar “manchadas” por tais ocorrências… Quando confrontados com algum episódio de violência ocorrido num estabelecimento de ensino da sua alçada, basta analisar as respectivas declarações para se constatar e concluir que as mesmas vão quase sempre no sentido do escamoteamento e da desculpabilização…
Talvez porque assumir a sua existência implique também admitir uma certa responsabilidade pelo sucedido e uma certa incapacidade por não se ter conseguido evitar determinado incidente… O que realmente importa é fazer parecer que na “sua” escola impera a tranquilidade e a normalidade, mesmo que, no limite, isso signifique negligenciar e desproteger as eventuais vítimas dessa violência…
A todo o custo, tenta-se, frequentemente, que algum episódio de violência não se torne do conhecimento da comunidade educativa, sobretudo do conhecimento dos pais, com o pretexto de evitar qualquer tipo de alarme social… Esquecem-se os Directores de que, na maior parte dos casos e em condições normais, os pais são quase sempre os primeiros a saber o que se passa na escola do seus educandos… Não informar objectivamente, apenas fomenta o clima de desconfiança que por vezes se instala, por omissão de informação sobre determinados assuntos, assim como a especulação e os boatos acerca dos mesmos…
Ao Ministério da Educação também não interessa que sejam identificados problemas de violência nas escolas. Afinal somos um país “na vanguarda da inclusão” e qualquer facto que contrarie essa ilusão e esse delírio não é bem-vindo nem bem aceite… Resumindo, uns disfarçam e os outros fazem de conta que não vêem…
Escusamos de ter ilusões: com maior ou menor frequência, com maior ou menor intensidade, em todas as escolas se verificam episódios de violência. Numas esses episódios assumem um carácter esporádico, noutras tornam-se praticamente endémicos…
Na realidade, a violência nas escolas é um fenómeno concreto, com causas e com consequências identificáveis, assim exista a vontade de as reconhecer, e é possível agir sobre umas e outras… Alunos, pais, professores, técnicos, direcções e assistentes operacionais, todos têm o direito e o dever de a denunciar, independentemente de quem seja(m) o(s) agressor(es)…
Não é possível enfrentar o problema da violência escolar com a seriedade que o mesmo exige sem que as escolas, sobretudo na figura dos seus dirigentes máximos, consigam desmistificar o problema: em primeiro lugar, assumindo-o e, em segundo lugar, reportando-o à Tutela…
Pelo que já se conhece acerca deste problema, a violência nas escolas não pode deixar de ser enquadrada por algumas características de determinados contextos familiares e/ou na permissividade de alguns comportamentos, tacitamente autorizada por algumas Direcções de Agrupamentos…
Quando existam motivos que o justifiquem, as famílias não podem deixar de ser responsabilizadas pelos eventuais danos causados (morais e/ou materiais), mas a gestão das escolas e as políticas do Ministério da Educação sobre este assunto também não…
O pior que pode acontecer numa comunidade educativa é gerar-se o sentimento generalizado de injustiça e de impunidade perante actos de violência, por vezes traduzido por esta afirmação: “Todos sabem, mas ninguém faz nada…”. E tem que haver condenação e punição dos comprovados agressores… E tem que haver algum tipo de ressarcimento das vítimas…
E a não ser quando alguma acção de alguém, dentro de uma escola, se torna deveras e escandalosamente violenta para ser ignorada, tornando-se pública, é que se volta a falar sobre o maldito fenómeno…
Nessa situação, “acordam” e indignam-se muitas consciências, como se se desconhecesse por completo a existência do fenómeno ou como se ele se constituísse como um acto nunca antes visto…
Depois é só esperar mais algum tempo até que o fenómeno volte a ser esquecido…Até à próxima ocorrência…
As vítimas, essas, não costumam esquecer… E não se podem calar, mesmo que, lamentavelmente, alguns não as queiram ouvir… (Matilde)