Alunos do 1.º ciclo sentem dificuldades na leitura, escrita e interpretação de textos:

Estudo do IAVE aponta para dificuldades na leitura e escrita por parte dos alunos do 1.º ciclo do ensino básico. Presidentes da ANP e CONFAP não ficaram surpreendidos e pedem novas estratégias de recuperação de aprendizagens.

Após dois anos letivos fortemente marcados por confinamentos, máscaras e aulas online, as acrescidas dificuldades dos alunos do ensino básico não foram surpreendentes para as associações de pais e professores.

O mais recente Estudo de Aferição Amostral do Ensino Básico 2021 – Descrição Qualitativa dos Desempenhos, realizado pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) através das respostas dadas nas provas de aferição por cerca de 49 mil alunos confirmou o que já se pensava no ensino português: existem dificuldades na leitura e escrita por parte das crianças.

Ao DN, o vice-presidente da Associação Nacional de Professores (ANP), Manuel Oliveira, explicou que “os últimos resultados das provas de aferição demonstram dificuldades a nível da língua portuguesa em sínteses de textos e ainda alguma dificuldade na escrita e na leitura”, tendo em conta os dados disponibilizados pelo IAVE em relação aos alunos do primeiro ciclo de escolaridade.

De acordo com o IAVE, apenas 7,8% dos alunos do 2.º ano responderam de forma completamente correta quando lhes foi pedido que fizessem uma análise e avaliação do conteúdo de um texto. Aliás, mais de metade dos alunos (51,9%) deu uma resposta incorreta e 17,9% nem tentou responder, segundo o presidente do IAVE, Luís Pereira dos Santos.

Em relação à leitura, também foram identificadas dificuldades em conseguir retirar informações de um texto, sobretudo “quando as informações em causa não se encontram ordenadas cronologicamente”.

Em relação às provas deste ano, que terminaram a 20 de junho, o responsável da Associação Nacional de Professores admite que “muitos professores acreditam que as provas de aferição não deveriam ter sido realizadas este ano, mas provavelmente no próximo. No entanto, os resultados das provas poderão servir para o Ministério da Educação adotar mais medidas no sentido de colmatar as aprendizagens que não foram recuperadas devido à pandemia”.

Manuel Oliveira reforça, no entanto, que “a pandemia ainda não acabou” e as estratégias do Plano de Recuperação de Aprendizagens 21/23 Escola+ do Ministério da Educação devem ser alargadas.

Já Mariana Carvalho, presidente da direção da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), confessa ao DN que os resultados foram “expectáveis”, depois de dois anos letivos marcados pela pandemia. “As provas foram um diagnóstico de dois anos complicados em que muitas escolas estiveram fechadas e numa altura em que tanto a comunidade escolar como as famílias tiveram de se reinventar”, diz. Mariana Carvalho considera ainda que as dificuldades já existiam, mas que os confinamentos “vieram evidenciar algumas das desigualdades”. Isto porque, “durante a pandemia, apesar dos esforços, muitos alunos acabavam por não conseguir acompanhar na escola online”, explica.

Atendendo ao Plano de Recuperação de Aprendizagens, defende que é importante dar lugar à saúde mental, em conformidade com a recuperação de conhecimentos de Português, Matemática e Estudo do Meio. “Importa aqui cuidar também da saúde mental e emocional dos alunos, professores e famílias, porque a recuperação de aprendizagens não é só nos conhecimentos essenciais, mas também no ponto de vista da socialização. Tendo em conta as crianças que ficaram muito tempo fechadas em casa, a recuperação é muito mais do que aprender a ler, escrever, somar ou subtrair. É necessária uma recuperação num todo”, justifica.

Em vista aos próximos anos letivos, a presidente da CONFAP acredita que “não vamos simplesmente voltar à normalidade da pré-pandemia, mas que possamos encontrar um conjunto de sinergias entre o “antes” e o “agora” para construir o futuro da Educação”, sublinha.

Quanto à falta de professores que se faz sentir por todo o país, ambos os dirigentes admitem que esse não é um problema evidente no primeiro ciclo do ensino básico. “No primeiro ciclo parece-me que a esmagadora maioria dos alunos tiveram as suas aulas desde o início. Essa dificuldade a nível do primeiro ciclo não tem grande repercussão, apenas acontecem algumas situações esporádicas”, diz Manuel Oliveira. No entanto, Mariana Carvalho refere que “a CONFAP tem tido conhecimento que existem faltas de alguns professores de apoio e de necessidades educativas especiais”.     ines.dias@dn.pt

A pandemia é desculpa para tudo! Se compararem um livro da 1ª classe de há anos com um dos dias de hoje, verificarão que os alunos do 1º ano só aprendem metade do alfabeto ficando a outra metade para o ano seguinte! Mais, analisem um caderno de atividades para férias “Do 1º para o 2º” que se vendem até nos supermercados e verifiquem a discrepância que existe entre o seu conteúdo e aquilo que uma aluno sabe. No final do 1º ano, com professor sem faltas e muito trabalho em casa, o aluno não sabe ler nem escrever a não ser curtas frases decoradas. Se não sabem ler, como hão-de interpretar? Por quantos anos andarão preocupados em juntar as sílabas? Conheço alunos assim até ao 9º ano. É uma lástima este método porque não aproveita as capacidades que as crianças apresentam nesta idade. Falo com conhecimento.  4h
Joaquim Santos

Se atribuirmos tudo à pandemia estamos salvos. O pior é o resto…  2h