Atentado à escola:

Atentado à escola

O presente ano escolar tornou-se impraticável. As crianças começaram a ir para casa constantemente cumprir isolamento por causa da professora, do auxiliar ou do colega que tinha testado positivo…

Atentado à escola:

Os últimos três anos letivos têm sido um verdadeiro atentado à escola, tal como a conhecíamos.

Apesar do incessante esforço das instituições e do corpo docente – que se tem adaptado, acumulado tarefas e superado –, a escola como a conhecíamos, que se levava a sério, certa e exigente, tem vindo a desmoronar-se.

Se há um ano, já com a experiência de 2020 de ensino à distância, foi tão polémico o período em que as escolas voltaram a encerrar – porque veio mais uma vez evidenciar as diferenças entre as instituições, as famílias e lembrar que os meios prometidos não tinham sido disponibilizados – este ano, pelo terceiro ano letivo consecutivo, as diferenças e injustiças já não suscitam qualquer preocupação ou indignação.

O presente ano escolar, a partir de uma certa altura, tornou-se impraticável.

As crianças começaram a ir para casa constantemente cumprir isolamento por causa da professora, do auxiliar ou do colega que tinha testado positivo.

Algumas instalações já tinham câmaras de filmar de modo a permitir que quem fosse para casa pudesse acompanhar as aulas.

Mas outras não.

Depois de três semanas de férias e outras tantas de isolamentos, os casos positivos proliferaram e houve escolas com turmas quase vazias.

Houve famílias que ficaram mais de um mês em isolamento e muitas crianças e jovens ficaram simplesmente sem aulas, enquanto, na sala, os professores iam tentando lidar com a entrada e saída constante de alunos.

Estranhamente não tinha sido preparado qualquer plano que protegesse os alunos que estavam em casa.

Algumas escolas tinham meios físicos e humanos para dar apoio à distância. Outras não.

Num dia o aluno está na escola, no outro vai para casa, falta às aulas, aos testes, e depois regressa, como se nada se tivesse passado.

A indiferença e leviandade com que as crianças foram enviadas para casa sem se ter assegurado o acesso geral às aulas ou algum tipo de acompanhamento não só vem acentuar mais uma vez as diferenças entre as escolas, famílias e alunos, como contribuir para descredibilizar o papel da escola.

A mensagem que se passa é que faltar não é grave e que em casa se aprende o mesmo.

Houve crianças que falharam várias semanas de aulas sem sequer terem estado infetadas.

Muitas ficaram em casa vários dias entre conseguirem marcar teste e receberem o seu resultado.

Outras por precaução. E imensas em isolamento devido a um caso positivo no agregado.

Se o ensino já suscitava algumas dúvidas, quer pelos meios pouco eficazes quer pelos programas extensos e pouco adequados, o que dizer agora após três anos de escola intermitente e imprevisível, aulas dadas tanto por professores, pais ou em regime autodidata, dúvidas que ficam por tirar, matérias que ficam por aprender e bases que nunca vão existir?

Como seguir em frente como se nada fosse?

Como ignorar as lacunas e injustiças que se têm imposto?

A escola afinal não é importante?

Já não é para ser levada a sério?

É necessário parar e refletir sobre estes anos e encontrar uma solução que devolva à escola o seu estatuto e pare de prejudicar os alunos.

Rui Cardoso- FEV152022