Quando há dias escrevi que se não se tomassem medidas mais restritivas no regresso à escola, considerando o relaxar de medidas no Natal e Ano Novo, poderíamos rapidamente chegar ao descalabro! Aqui estamos, com mais de dez mil casos de infecção diária.
Na altura, o que eu alegava era apenas prudência no regresso às aulas, para que se conseguisse ter uma maior noção da consequência das medidas do Natal na evolução da pandemia. Uma medida que poderia ter sido adoptada, de forma a mitigar a mais que provável subida de casos activos e infecções diárias, seria adiar em uma semana o início do segundo período a nível nacional, ou seja, iniciar-se-ia a 11 de Janeiro.
Quando, nos últimos dias, constato que, muito provavelmente, iremos regressar ao confinamento geral como aconteceu em Março, mas que desta vez as escolas manter-se-ão abertas, não consigo perceber como é que isso será possível. Mesmo que queiramos alinhar na retórica de que na escola os contágios não se dão — sendo que fica por esclarecer o facto de não se ter testado, gratuitamente, a comunidade escolar com os testes oferecidos pela Cruz Vermelha —, fico espantado como não se pensa que esses alunos, e em muitos casos os respectivos pais, terão de se deslocar.
A grande maioria fá-lo-á em transportes públicos, onde, como se sabe a maioria das medidas de protecção pessoal são impraticáveis. Se juntarmos a isso o facto de, no caso dos alunos mais velhos, muitos deles continuarem a resistir à adopção de medidas de pessoais de contenção, nomeadamente o uso inadequado da máscara e o distanciamento físico fora das escolas, então temos algumas das razões para aqui termos chegado.
Os anúncios foram muitos, os valores apresentados para a Transição Digital na educação eram respeitáveis, mas a realidade foi bem diferente ao longo do 1.º período. Os kits tecnológicos tardaram a chegar às escolas, final do primeiro período, e em número manifestamente insuficiente às necessidades apuradas durante o primeiro confinamento.
Na sexta-feira, preenchi um inquérito referente ao Plano de Capacitação Digital de Docentes que visava apurar o meu nível de proficiência global. Este tardio apuramento por parte da tutela mostra bem o atraso que leva todo este processo de transição e explica claramente o porquê de, agindo politicamente e não respeitando as indicações dos especialistas, o Governo não querer fechar as escolas.
Neste momento as ferramentas de que dispomos para o E@A são as mesmas que disponhamos em Março e isso ficou provado na altura que é manifestamente insuficiente para o desenrolar eficiente deste tipo de ensino.
Não ignoro, como aliás escrevi há tempos que a escola é hoje um dos maiores suportes socioeconómicos, mas considerando a situação pandémica actual exige-se seriedade nas decisões que se tomem. É preciso coragem, mais humanismo e menos política na decisão.
Sugiro que:
- Se inclua com urgência toda comunidade escolar na primeira fase de vacinação;
- Se fechem as escolas do 3.º ciclo e secundário passando para E@A;
- Interrompam por uma semana o ensino presencial dos restantes ciclos para que toda a comunidade possa ser testada.
Não agir agora poderá obrigar a reagir tarde num futuro próximo.