Explicações. Fenómeno a crescer e o Estado a olhar para o lado:

Explicações. Fenómeno a crescer e o Estado a olhar para o lado © André Carrilho-Helena C. Peralta-20 Setembro 2021

Mercado mundial dos centros de explicações e de aprendizagem já vale mais de 106 mil milhões de euros, estimando-se que ultrapasse, em 2026, os 172 mil milhões.

Em Portugal não há dados concretos sobre a sua verdadeira dimensão e o Estado faz vista grossa ao ignorar o seu impacto e ao não criar regulamentação específica. Certo é que são um forte sistema paralelo de apoio às famílias e que muitas delas não se conseguiriam organizar sem ele.

Se a escola desse resposta a todos os alunos, os centros de explicações seriam mesmo necessários?

Conciliar a vida profissional dos pais, os horários das crianças e jovens, com as explicações e as atividades extracurriculares não é tarefa fácil.

A azáfama é grande e muitos pais só relaxam quando conseguem ter garantido o suporte necessário para levar a bom porto o novo ano letivo que agora começa.

Sendo Portugal um dos países em que ambos os progenitores trabalham fora e em que a velha rede, os avós, está cada vez mais indisponível pelo facto trabalharem até idade mais avançada, a gestão familiar não podia ser bem conseguida sem este sistema paralelo de apoio à educação.

Esta rede de suporte privada faz a ponte de ligação ao sistema formal de educação, pois como os horários de saída das escolas não são coincidentes com os horários de trabalho dos pais, muitas famílias encontram nos centros de estudos o local ideal para deixarem as suas crianças e jovens. 

Além de os irem buscar à escolas, também os ajudam nos TPC – tarefas que tantas vezes geram conflitos à hora do jantar, nas matérias mais difíceis e providenciam explicadores, em grupo ou em aulas individuais.

Há quem defenda que este mercado cresce à custa da “angústia” dos pais em conseguir conciliar as suas stressantes vidas profissionais, as ocupadas agendas dos filhos e o sucesso escolar que tanto ambicionam para os seus rebentos.

Esta responsável acrescenta: “A FENPROF reafirma que os nossos impostos deviam garantir uma escola pública de qualidade para todos, mas os sucessivos Governos têm preferido uma escola pública barata, com poucos professores e poucos recursos, condenando muitos alunos a percursos de insucesso escolar e obrigando as famílias a um esforço financeiro inversamente proporcional ao esforço financeiro do Estado na educação”.

Sublinha que é significativo que a OCDE, através do estudo Education at a Glance, tenha chamado a atenção para o facto de Portugal estar a investir em educação menos do que a média dos países-membros da UE, o que terá consequências negativas no futuro do país.

Mercado internacional em acelerado crescimento:

Contudo, este não é apenas um fenómeno nacional.

O mercado das explicações privadas – ou tutoria particular – está a crescer mundialmente, quer porque a população em idade escolar também aumenta e há cada vez mais escolas e universidades a lecionar, quer porque as ambições ao nível do sucesso escolar são cada vez mais altas.

A educação superior é vista, um pouco por todo o mundo, como uma forma de ascensão social, e por esse motivo cada vez mais as famílias investem fortemente na instrução dos seus filhos.

Na Coreia do Sul, por exemplo, um dos maiores mercados mundiais de explicações privadas – vale cerca de 12 mil milhões de euros -, esta atividade representa já 12% do orçamento familiar mensal. É um investimento importante no futuro dos estudantes sul-coreanos.

Segundo o relatório Private Tutoring – Global Market Trajectory & Analytics, realizado pela Global Industry Analytics, multinacional de estudos e estatísticas, o mercado mundial das explicações (incluindo centros de estudo, centros de aprendizagem, entre outros formatos) atingiu, em 2020, um volume de negócios de 124 mil milhões de dólares (cerca 106 mil milhões de euros) e deverá ascender a perto de 202 mil milhões de dólares (cerca de 172 mil milhões de euros) em 2026, um crescimento anual composto estimado de 8,4%. 

Em 2026, as estimativas desta organização apontam para que a China atinja os 56 mil milhões de dólares (48 mil milhões de euros), cerca de um quarto do valor mundial.

Segundo este estudo, a educação complementar está a crescer tanto nos países desenvolvidos, como nos países em desenvolvimento.

Japão, Canadá e Alemanha são alguns dos países onde este tipo de atividade de tutoria está a aumentar a bom ritmo, com crescimentos entre os 5% e 8% ao ano.

Ainda que a pandemia tenha alterado um pouco as regras do jogo, este mercado não foi muito penalizado, até porque as soluções online passaram a ser prioritárias em fases de confinamento. Segundo este relatório, o segmento do digital ganhou peso e estima-se um crescimento médio anual de 11,5% nos próximos sete anos.

Segundo um outro estudo, realizado pela Grand View Research, multinacional de consultoria sedeada na Califórnia, designado de Online Tutoring Services Market Size, Share & Trends Analysis Report, a fatia do mercado mundial relativa ao acompanhamento nas plataformas digitais representava, em 2020, cerca de 5,6 mil milhões de dólares (cerca de 4,7 mil milhões de euros) e estima-se que cresça a um ritmo médio de 15% ao ano até 2028.

A crise pandémica acabou por acelerar a apetência da procura para este este tipo de formatos de aprendizagem remota.

Um recurso para cerca de 244 mil alunos:

Em Portugal não há estudos concretos e atualizados sobre o peso desta indústria na economia, nem tão pouco se sabe de que forma a pandemia afetou o negócio.

Sandra Romão, diretora geral da rede Ginásios da Educação Da Vinci, um dos maiores franchisings nacionais do setor, com mais de 40 centros de explicações e agora também uma plataforma online, revela que, segundo um estudo interno da empresa, realizado em 2019, existirão em Portugal cerca de 12 mil explicadores e aproximadamente mil centros de estudos.

Afirma ainda que, segundo as suas estimativas, 22% dos alunos nacionais recorrem a apoio escolar, 17% dos quais em regime de explicadores particulares, sendo que apenas 5% das crianças e jovens frequentam centros de explicações.