Criado em 1983 para dar corpo ao sonho utópico do Dr. João dos Santos, o Instituto de Apoio à Criança (IAC) cedo viu reconhecido o seu papel com a atribuição pública e formal do estatuto de entidade de superior interesse social. Estatuto que diversas vezes ao longo dos quase quarenta anos de existência se viu formalmente reiterado pela atribuição de prémios nacionais e internacionais quer ao Instituto quer à sua Presidente Honorária, Manuela Ramalho Eanes.Empenhado na defesa do direito das crianças, ao seu bem-estar, à realização e felicidade, o IAC definiu como seu objetivo primeiro, no tempo, chegar àqueles que maior risco corriam de se ver privados desses mesmos direitos. Para isso, procurou-os na rua – onde encontravam refúgio e integrou-os na família e na comunidade – através do Projeto Rua, e disponibilizou um número de atendimento gratuito a funcionar todos os dias das 9 às 21horas, o SOS Criança; propôs-se devolver a todas as crianças o direito a brincar livremente; humanizou espaços de atendimento; criou redes nacionais; afiliou-se nas mais prestigiadas instituições internacionais. Falou em Direitos da Criança quando ainda nem as Nações Unidas haviam aprovado a Convenção sobre os Direitos da Criança. Passou do remediar urgente à prevenção necessária.
Pode, assim, assumir que conhece bem a realidade das crianças e jovens portugueses e pode afirmar que, sempre que se depara com um caso de uma criança ou jovem em situação desfavorecida, vários fatores negativos se encontram associados designadamente a pobreza; ausência de afeto, pouca auto estima, e baixa ou deficiente escolaridade: incapazes de se integrar numa sociedade que não só não os engloba mas, por vezes, os marginaliza, os jovens reagem rebelam-se, muitas vezes com recurso à violência.
No quadro da atuação junto de crianças, de jovens e das suas famílias, o IAC tomou contacto com inúmeras situações de risco em que a educação constituiu o meio privilegiado de combater a pobreza e a exclusão social, não só através dos conteúdos académicos mas, e com grande relevância, pelo treino de competências sociais e de cidadania.
O IAC tem procurado seguir de perto as normas fundamentais à Educação, privilegiando a Constituição da República e o seu art.º 9º, conhecido como o “artigo dos valores” – que menciona as tarefas fundamentais do Estado – e a Convenção sobre os Direitos da Criança que elenca no seu art.º 29º os fins da Educação que se reconduzem a uma especial preocupação com o respeito pelos Direitos Humanos e pela cidadania.
Na verdade, em todas as suas iniciativas, têm estado presentes as ideias da Dignidade Humana e da Solidariedade, a educação para a cidadania, no sentido de contribuição para a construção de uma sociedade livre, mais igualitária e mais justa em que impere o respeito pelo outro e pelas suas múltiplas formas de expressão.
Acreditamos que a educação não conseguiria a sua missão social se não ambicionasse mais do que a simples memorização de conhecimentos académicos ou o mero treino de habilidades pois antes tem como missão última contribuir para a plenitude e a realização pessoal, o bem estar coletivo e a evolução da sociedade democrática, tolerante e integradora.
Os resultados obtidos nessas experiências consolidaram a firme convicção de que a Educação é um instrumento poderoso, indispensável e insubstituível para as crianças adquirirem competências que lhes permitam viver de forma mais digna e responsável.
Não pode o IAC, por tudo isto, deixar de congratular-se com a consideração da formação cívica, como objetivo transversal a todo o percurso escolar dos jovens e apoiar, consequentemente, a existência de um espaço curricular obrigatório, de debate e reflexão, a ela expressamente dedicado.