O papel do esforço na aprendizagem:

O papel do esforço na aprendizagem - Elsa Barros

A ideia de que aprender não implica esforço, além de enganadora, pode ter impacto na qualidade das aprendizagens, contribuindo, ainda, para fragilizar as crianças, tornando-as menos robustas para ultrapassarem as adversidades e concretizarem os sonhos.

Andamos a vender às nossas crianças a ideia falaciosa de que aprender não implica esforço por parte do sujeito que aprende.

Fazemo-las acreditar que a aprendizagem tem de ser divertida, colocando o ónus da motivação do lado do lado do sujeito que ensina, a quem é pedido que invente a roda, se necessário for, para fazer com que os seus alunos desejem aprender.

Essa implicação do aluno na sua aprendizagem pressupõe motivação, curiosidade e criatividade, num processo de construção do significado que, por vezes, até pode ser divertido.
No entanto, julgo que há alguma confusão entre divertido e significativo.
Se a aprendizagem for divertida tanto melhor, mas não tem necessariamente de o ser; pelo contrário, a aposta no significado é muito relevante para que a criança se envolva no seu processo de aprendizagem, atribuindo um sentido àquilo que aprende.
Assim, é fundamental que a escola dê voz aos alunos para exprimirem a sua curiosidade e procure dar-lhes resposta, através de metodologias ativas que os mobilizem para a construção do seu saber.

Mas também não é menos verdade que aprender implica esforço, perseverança, resiliência, dedicação, paciência e disponibilidade por parte do sujeito que aprende para a realização de tarefas que podem eventualmente não ser do seu agrado ou que podem, porventura, agradar-lhe menos.

A omissão desta parte da verdade, além de enganadora, acaba por se tornar prejudicial para a qualidade das aprendizagens, não só para as iniciais, como sobretudo para as subsequentes.

Mas, não menos importante, esta ideia ilusória de que aprender não implica esforço também fragiliza as crianças, tornando-as impreparadas para lidarem com os desafios e ultrapassarem as adversidades com que, mais tarde ou mais cedo, vão ter de se confrontar.

Leva-as a construir a ideia enganadora de que tudo é fácil ou, pelo menos, de que tudo lhes irá ser facilitado, o que não é de todo verdade, tal como irão ter oportunidade de constatar pela vida fora.

Pelo contrário, o exercício do esforço contribui para muscular a resiliência, a persistência, a vontade, a responsabilidade, o comprometimento e a capacidade de superação de obstáculos.

Esta impreparação para lidar com os desafios e adversidades pode, no limite, impactar na consecução dos sonhos.

Para nos tornarmos quem temos potencial para vir a ser é preciso talento, imaginação e vontade.

Mas não só: também é fundamental empenho, resistência e esforço. Segundo Fernando Pessoa, a proporção é de 10% de inspiração e 90% de transpiração — o que, por outras palavras, é o mesmo que dizer que o talento dá mesmo muito trabalho.

Toda e qualquer tentativa de realização pessoal implica sempre alguma forma de superação — não em competição com os outros, mas sim no sentido de contrariarmos a nossa própria inércia, transcendendo a mediania.

Para concretizar os sonhos, é necessário insistir e persistir e, apesar dos fracassos, perseverar.

Quem consegue aproximar-se dos seus propósitos de vida não é quem nunca fracassou, é quem conseguiu superar os fracassos e aprender com as derrotas. E, para tal, é imprescindível essa quota-parte de investimento e esforço que sublima o talento em sucesso.


A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico. Elsa Barros Por  VozProf-