Quando tive de concorrer ao estágio pedagógico para professor dos quadros, optei pelas escolas comerciais e industriais, porque me revia no tipo de ensino que nelas se ministrava.
Pouco depois, a unificação do ensino veio a guardar na arca congeladora o ensino técnico e profissional, por razões que se entendem e que subscrevo e que tentavam, pela via de uma escola única, atenuar ou diminuir a discriminação que havia entre liceus e escolas técnicas.
Digamos que se terá perdido uma riqueza existente em muitos estabelecimentos de ensino, de que seriam expoentes na cidade de Coimbra as Escolas Avelar Brotero e Jaime Cortesão, mas também devem entrar neste leque de boas práticas a escola Comercial e Industrial da Figueira da Foz, por exemplo. Entre muitas outras, claro.
Ganhava-se em integração, perdia se em diversificação escolar. Só em 1989 se voltou a pensar se a sério na necessidade de se encarar este tipo de ensino técnico como importante.
Foi Roberto Carneiro, um Senhor da Educação e do Ensino e a quem muito se deve (recordo que o estatuto da carreira docente existe, porque ele forçou a sua existência) que deu gás ao aparecimento das escolas profissionais, já não dentro das escolas públicas, mas com um outro quadro legal a que entidades privadas e autarquias se candidataram.
Noto que a importância do então chamado ensino comercial e industrial nunca ficara completamente no esquecimento.
Não há muitos anos, num jornal de referência nacional, podia ver se um anúncio em que a entidade contratante dava preferência na seleção de candidatos a alunos que tivessem frequentado determinado curso da Avelar Brotero.
Está tudo dito: os cursos profissionais eram mesmo necessários e urgia ressuscitar um modelo que os suportasse.
Roberto Carneiro percebeu isso e começou a trabalhar.
Hoje há uma nítida aposta no ensino profissional que vale enquanto percurso de autonomia dos aprendentes e que pode ser uma resposta eficaz a muitas das necessidades do país.
Recordo que a área da hotelaria e turismo, onde a falta de gente qualificada parece ser um bico de obra, encontra em várias das escolas profissionais espalhadas pelo país uma resposta de muita qualidade.
Ainda há dias, numa unidade hoteleira deste distrito, encontrei dois alunos da escola Profissional de Anadia (se não erro) fazendo o seu estágio e mostrando aptidões muito satisfatórias.
Os tempos que correm são propícios a outras valências, como a informática e a prevista criação de centros tecnológicos (digitais, informáticas e industriais), respondendo às necessidades do mercado de trabalho, parece ser uma “novidade” que visa a modernização e a capacitação da nossa mão de obra, que se quer qualificada, motivada e reconhecida.
Mas também o desporto (bem associado ao turismo), o restauro do património, a beleza (tão na moda nos tempos hodiernos) e muitas, muitas mais formações.
Eu sei-todos sabemos-que ainda se olha de viés para este tipo de formação escolar e profissional.
Mas vai sendo tempo de afastar as teias de aranha da tradição e apostar a sério numa visão que contribua para a modernização do país.
Pode a Escola fazê-lo? Pode contribuir, sem nenhuma duvida.
Mas será sempre bom que as famílias acarinhem o ensino profissional e entendam que tendo ele a mesma dignidade de outras vias de ensino, pode trazer um acrescento à formação geral, somando lhe uma formação de natureza profissional que não impede nenhum aluno de poder prosseguir estudos em níveis mais avançados do sistema educativo.
Ultimamente tem sido feita uma grande divulgação do ensino profissional.
Muito bem, mas todo o sistema deve estar preparado para fazer o encaminhamento adequado dos alunos, aproveitando a já extensa rede nacional de escolas profissionais.
A árvore dará os seus frutos #Opinião de Linhares de Castro 7 de Julho, 2022