Depois da Varela, agora a Abecassis. Estava a ler um texto em que uma mãe (Raquel Abecassis) diz uma coisas perversas sobre a escola e professores do filho.
O texto está a ter grande difusão. Fica nele a ideia, que parece intencional no tom da autora, de que quer verberar a “escola pública” e não a escola concreta onde filho estuda. Como tem acesso privilegiado à comunicação social, a mensagem passa sem realmente se deslindar que o problema é naquela concreta e não um problema geral. Porque o que diz não é um problema geral. Mesmo.
As coisas nas escolas “não públicas”, como diz, em vez de privadas, num tique característico, não são o retrato que faz.
E, como li o texto todo, cito uma parte curiosa:
“A triste realidade é que o Estado português é uma entidade pouco recomendável e os seus representantes políticos são o rosto da irresponsabilidade e da incompetência. A culpa é nossa, de todos nós, que não nos indignamos e deixamos andar.
E assim este país continua e continuará a ser o país em que as oportunidades só surgem para quem tem conhecimentos e dinheiro. Quem não tem fica eternamente dependente dos favores de um Estado que cultiva a mediocridade para sobreviver.”
Escusado será dizer que Raquel Abecassis têm, pelo menos, conhecimentos suficientes para conseguir publicar generalizações abusivas num dos jornais mais conhecidos do país.
O que diz sobre o Estado confunde Estado com Governo.
Realmente a culpa dos problemas da Res publica e do Estado é nossa. Mas o país continuará com os defeitos que tem se, quem tem formação para escrever aquele texto burilado, for cínica o bastante para preferir antes mandar bitaites no Observador, a usar os mecanismos democráticos e de participação de que dispõe numa escola pública.
Isto é deixar andar e só se mexer para mandar bocas.
Por exemplo, já falou com o representante dos pais da turma do seu filho para entender e mostrar descontentamento e reunir com a direção?
Que ações tomou a associação de pais?
E os representantes dos pais no Conselho Geral (órgão decisor máximo do agrupamento, em que os pais valem uns 30% e que até pode demitir o diretor), que fizeram para representar o seu descontentamento?
Essa parte falta na sua arenga.
O Estado português até pode ser uma porcaria como diz, Raquel, mas é democrático e tem formas de as pessoas serem ouvidas e terem ganho de causa, sem precisar degradar todos os professores do país (inocentes no caso concreto) num texto de difusão alargada.
E, longe de mim querer ser advogado de defesa, do Mário Nogueira (se pesquisar um bocadinho percebe que o seu discurso sobre ele até parece moderado, face a alguns dos meus) mas, tento ser justo com ele e, só com muito facciosismo irrealista, se podem imputar-lhe problemas concretos de gestão concreta e quotidiana de uma escola qualquer.
A não ser que tenha deixado de ser o papão do sindicalismo, para uso de liberalões do Observador e tenha sido nomeado diretor dessa escola. Creio, com pena, que ainda está na FENPROF e não anda a gerir escolas na Grande Lisboa.
E diga lá: há alguma escola não pública onde o diretor possa ser sujeito a uma moção de demissão, proposta por pais, se for incompetente? Gostava de a ver avançar com isso. E até ajudava. Se a coisa está assim tão mal governada.
O Estado pode ser pouco recomendável, mas a sociedade civil também não se recomenda. Também, e em prejuízo da Res Publica, não aproveita o espaço que ele tem para ser melhorado, com real participação cívica…. Que não é só mandar bocas ao ar.
Respeito o que diz, mas respeitaria mais se me mostrasse participação cívica e não só acidez e preconceito anti-profs……