Pais do mundo, uni-vos!

Há uma minoria esquecida e envergonhada, que urge ser defendida: a minoria constituída pelos pais, essa mítica figura masculina. Mais do que as mulheres, os gays, os negros ou os políticos, os pais sofrem hoje um perigo maior do que a escassez de direitos ou mesmo da desigualdade: o perigo da indiferença, da irrelevância. E não há uma única associação que se preocupe com isto.

Ao contrário das outras minorias barulhentas, os pais, mais do que discriminados, são ignorados. E não é por não terem direitos – têm -, o problema é que ninguém liga aos direitos dos pais. Desde que a barreira da autoridade foi destruída nos idos anos 60 que os pais andam perdidos. Hoje, para merecerem uma cerveja ao final do dia na companhia dos outros pais a assistirem a um jogo de futebol e não serem acusados de machistas, fascistas, egoístas ou trogloditas, os pais têm ter tantas competências domésticas e maternais quanto as mães – e ainda têm de lavar o carro. Não é por acaso que as tabernas estão quase extintas. A melhor hora das tabernas é a hora dos banhos dos filhos, de fazer o jantar e de ajudar nos trabalhos de casa. E não convém desempenhar estas tarefas com um copo a mais. Já uma mãe que queira ir ao cabeleireiro ao final do dia, não tem de lavar o carro e está apenas a exercer os seus direitos como mulher.

O mundo, meus caros, é das mães, os filhos são das mães e quem manda nas famílias são as mães. É assim e é assim cada vez mais. Os pais nem sequer têm competências próprias, todas as que têm são partilhadas pelas mães. Ah, mas os pais estão hoje mais presentes na vida dos filhos do que antigamente. No papel, porque na realidade as mães não permitem que essa presença seja à vontadinha, é uma coisa controlada. Os pais podem ir às reuniões da escola, às consultas de pediatria e até podem ir fazer as unhas com as filhas, mas só vão quando e porque as mães deixam. A zona dos filhos é exclusivamente maternal e só com permissão das mães é que podem navegar por estas águas. Ou ficam em terra. Acham mesmo que as revoluções geracionais teriam acontecido se as mães não tivessem permitido? A autoridade dos pais só foi derrubada com a cumplicidade silenciosa das mães (e de alguma droga, vá). As mães da altura acarinharam certamente com amor e orgulho a rebeldia dos seus bebés, que de barba e cabelos compridos se revoltaram contra a figura castradora e autoritária do pai dos anos 50. “É um artista, este meu filho. Sempre foi um sonhador”. E lá foi o pai pelos ares ao som dos The Doors.

Como se não bastasse a questão da irrelevância, os pais ainda têm ainda de passar pelo vexame da discriminação. Vejam lá nos grupos de encarregados de educação das turmas dos vossos filhos quantos pais lá estão. Pois. E os que estão é porque as mães deixam – nunca esquecer. Até em termos de linguagem existe discriminação: se poder maternal soa a coisa mística, sensível, carinhosa, já poder paternal quer dizer repressão, autoridade, despotismo.

Jurista