Por que razão deixou de ser atractivo dar aulas? Professores queixam-se de baixos salários e desvalorização social

Lara, aluna do secundário, quis saber o que pensam os docentes da profissão. Ontem levou os resultados para a cerimónia de entrega dos prémios “Inspira o teu Professor”.

Foto A estudante Lara Coelho (à esquerda) fez um inquérito a 50 professores Ricardo Lopes
Um professor inspirador?
Diogo Moura, que é actualmente vereador da Câmara de Lisboa, foi um dos desafiados nesta quarta-feira, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, a contar uma história. E falou da irmã Mercedes, uma das professoras que mais o inspiraram. Aos sete, oito anos”, contou, frequentava um externato, era uma criança tímida e não tinha a certeza de ser capaz de vir a fazer as mesmas coisas que os colegas, com mais meios económicos do que ele, fariam.
A irmã Mercedes era o oposto: uma professora comunicativa que tocava castanholas nos intervalos” das aulas e que, aos poucos, lhe incutiu o gosto pela música.
Mas fez mais do que isso. Ela dizia-me: ‘Tu és capaz de ser quem tu quiseres e estou aqui para te ajudar. E eu acreditei.”

“Por que motivo faltam professores e o que pode ser feito para resolver o problema?”, foi o ponto de partida da conversa moderada por Andreia Sanches, directora-adjunta do PÚBLICO. E Lara Coelho fez o trabalho de casa: trouxe os resultados de um inquérito sobre o tema que ela própria fez a uma série de professores. Responderam 50.

Os “salários baixos”, a “desvalorização” social e o facto de serem colocados longe da sua residência foram os problemas mais referidos pelos docentes, contou Lara durante o debate. E foram também essas as razões apontadas por Beatriz para tão poucos colegas da sua idade quererem seguir a profissão. Em 20 anos, o número de alunos inscritos no ensino superior em cursos especificamente de educação baixou 70%. Beatriz acredita que a pouca atractividade da profissão para os jovens tem a ver com o que “vêem e ouvem dos professores” — que dizem também que “não têm tempo para família” e que têm cargas horárias muito pesadas.

Ainda assim, Mafalda Lapa fez questão de elogiar uma profissão onde “a rotina não existe”, há “uma liberdade enorme para iniciar projectos” e todos os dias se “aprende com os alunos”.

A Campanha “Inspira o teu Professor” desafiou escolas básicas e secundárias a reflectir sobre o papel do professor e vários alunos apresentaram projectos.

Nesta quarta-feira foram premiados quatro: na primeira categoria, o da Escola Secundária do Fundão ficou em primeiro lugar e os concorrentes ganharam uma visita à Radio Comercial. A Escola D. Maria II (Vila Nova da Barquinha) ganhou uma visita à TVI. Na segunda categoria, a vencedora foi a Escola Básica de Briteiros, em Guimarães, com o prémio “Education First”, um curso no estrangeiro. A família Rosas, do Agrupamento de Escolas Vale do Tamel, Alijó, conquistou o primeiro lugar na terceira e última categoria, intitulada “Geração de Inspiração” e foi premiada com um dia ao Pena Parque.

Tenho a certeza que, tal como eu, todos os portugueses conseguem dizer pelo menos um nome de um professor que os marcou”, disse o ministro da Educação João Costa no final da sessão. O ministro falou de quatro que o marcaram em especial, sublinhou que é graças aos professores que os resultados das escolas têm melhorado, elogiou a iniciativa da Mentes Empreendedoras e fechou a conferência com um Obrigado professores!”    15 de Junho de 2022, 22:08