Das coisas que mais me irrita é ver a classe média e alta, que tem os filhos na escola privada, pedir que lhes devolvam o dinheiro que gastam na educação dos filhos.
Porque não lhes serve a escola pública, e como desoneram o Estado desse custo, querem de volta parte dos impostos que pagaram.
Irrita-me porque têm o privilégio financeiro de poder escolher a escola dos filhos e argumentam que, com uma qualquer espécie de cheque ensino fornecido pelo Estado, todos poderiam escolher a escola.
É tão evidente a mentira que só pode mesmo irritar. E estou muito à vontade nesta matéria porque também tenho as minhas filhas no privado, nada tenho contra o privado, só não quero que me devolvam dinheiro nenhum, porque fui eu que fiz a opção.
Não vou voltar agora a esse debate, porque o que agora me está a irritar mais é o facto de ser um governo socialista que está a matar o ensino público, onde eu gostaria que as minhas filhas entrassem no próximo ano.
Temos um ministro que diz com pompa e circunstância que “a despesa por aluno nestes últimos anos tem aumentado muito significativamente”, chegando aos 6200 euros anuais, e não se envergonha da figura que faz.
Gasta cada vez mais dinheiro para ter cada vez piores resultados.
Este fim-de-semana, Isabel Leiria escreveu no Expresso que, dois meses depois das aulas terem começado, ainda há alunos sem professores. E sabe-se lá quanto mais tempo vão ficar assim.
É assim que o governo quer fazer a recuperação das aprendizagens?
É assim que vão corrigir tudo o que de mau se passou durante o confinamento.
A desigualdade agravou-se durante a pandemia, o governo falhou sucessivas promessas de entregar computador e acesso à internet a todos os alunos, e demonstra total incompetência para resolver mais um problema de desigualdade social.
A maioria dos alunos que continua sem professor a disciplinas centrais do seu percurso escolar são crianças que não têm pais com capacidade, quer financeira quer de formação, para os ajudar a ultrapassar essa dificuldade.
Faço figas para que o próximo governo, seja ele de que cor for, leve mais a sério a defesa da escola pública.
Os discursos e as inaugurações dos últimos seis anos só contribuíram para que os defensores do cheque-ensino façam o seu caminho.
Já estivemos mais longe. É que acontece quando se faz uma coisa, apregoando que se está a fazer outra.
O governo diz que vai recuperar as aprendizagens perdidas nos dois últimos anos letivos e, no entanto, em Sintra, há uma turma de 3.º ciclo sem Matemática.
Isto chega a ser “criminoso”, ninguém merece tanta incompetência.
Coitadas destas crianças, numa disciplina nuclear para a sua formação, onde normalmente a maioria dos alunos tem dificuldades, estes em vez das cinco aulas semanais, estão a ter uma dada por um professor de apoio.
O ministério informa, muito satisfeito, que “até à semana passada havia pouco mais de 200 horários completos por preencher (o equivalente a cerca de 1100 turmas com furos a pelo menos uma disciplina)”.
Há aqui uns milhares de alunos que estão a ser altamente prejudicados e isto é visto com um encolher de ombros, com o fatalismo de quem acha que não se consegue resolver.
A escola pública merece mais respeito, por tudo o que representa pra o país.